A natureza quer falar - Diálogo entre humano e um peixe

Em comemoração ao Dia Mundial da Vida Selvagem, apresentamos a história do livro "A natureza quer falar" chamada Diálogo entre humano e um peixe.  E a responsabilidade que nós seres humanos temos com os impactos provocados em seus habitats. Confira abaixo:

 

Num mundo paralelo qualquer, onde humanos e peixes poderiam se comunicar, uma equipe de reportagem chega para entrevistar um peixe que decide descer o rio a procura de um lugar mais decente para viver.

Repórter – Bom dia senhor peixe, porque decidiu partir?

Nesse momento a entrevista é interrompida por alguns instantes devido a passagem de uma carcaça de tanquinho de lavar roupa.

Peixe – Preciso dizer mais alguma coisa? Tá vendo o monte de lixo que tenho que ficar desviando? Não tenho mais idade pra isso, vou dar uma condição melhor para meus filhos, não suporto mais viver com falta de ar. Tem lugares que não tem como respirar,tenho que subir até a superfície para conseguir oxigênio e tem momentos que fico com medo de não conseguir atravessar alguns trechos. Você já sentiu falta  de ar alguma vez? Se tiver sentido vai saber do que estou falando.

Peixe – Imagine se fosse o contrário, se nós jogassemos lixo no seu ambiente e tirassemos seu ar, bem provável de vocês estarem se matando pra conseguir um espaço mais limpo e um pouco de oxigênio.

Peixe – Aqui não, aqui a briga é com essa quantidade enorme de bactérias,algas e outros seres que começam a competir com a gente, e como eles estão aos milhões, as vezes até bilhões, dai você pode ter uma idéia de quem vence não é?

Repórter – E quem te garante que mais pra baixo vai estar mais limpo e melhor pra viver?

Peixe – Um grande amigo meu já fez a viagem e me contou que até suas escamas melhoraram depois que foi para um lugar mais longe, respira melhor, sua qualidade de vida aumentou. Ele voltou só pra me levar para onde eles estão vivendo.

Repórter – Ouvi falar que mais pra longe onde a maioria dos peixes estão vivendo, num lugar  mais limpo, existe pesca predatória, estão matando aos montes os seus companheiros, você não tem medo?

Peixe – Medo? medo de quê? Já viu que onde vocês estão, nós peixes sempre estamos correndo risco? A gente sempre fica torcendo pra que nada de ruim aconteça, mas a situação aqui tá meio se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

A repórter já aparenta sinais de impaciência, principalmente devido ao odor das águas do rio, sua equipe pergunta se ele não quer parar, ele diz que não e continua com a entrevista.

Repórter – Estou vendo que alguns companheiros peixes seus não estão nem um pouco afim de partir.

Peixe – Ah, esses dai? Sim, sim, alguns possuem pulmões ao invés de brânquias, dai conseguem tirar o oxigênio do ar, como vocês fazem, então eles na verdade gostam de  nadar no meio de tanto detrito, o alimento é abundante. Existem alguns outros peixes que possuem brânquias, mas eles não são exigentes. Mas tem um porém, vocês humanos não comem a carne deles, não é saborosa. Dai eles praticamente não possuem predadores, podem viver sem medo.

Peixe – Vou ter que ir agora, já estou meio atrasado, bem provável que se eu não correr vai chegar a hora que um curtume vai jogar uma grande carga de sujeira e o oxigênio vai zerar, dai terei que esperar até limpar, e quero descer hoje mesmo.

Meio aliviada pela entrevista estar acabando, a repórter se limita apenas a se despedir do peixe e sua família.

Repórter – Ok, muito obrigada, boa sorte para o senhor e sua familía.

Peixe – Obrigado

Nesse momento a repórter ainda acompanha o peixe até ele sumir pelas águas fétidas e escuras do rio.

 

Autor: Ernesto Augustus
Livro: A Natureza quer falar
ISBN - 978-65-00-29901-4

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